A força política do Movimento Brasil Livre despontou no país com as grandes manifestações contra o governo Dilma (2015). Mas, para entender o MBL, é preciso voltar às origens do movimento.
O MBL surgiu em 2013, no calor das manifestações de junho daquele ano. A maior influência veio do Think Tank, Estudantes pela Liberdade, financiado por grandes investidores norte americanos.
Quando teve os protestos em 2013 pelo passe livre, vários membros do Estudantes pela Liberdade queriam participar, só que como a gente recebe recursos de organizações como a Atlas (…), os membros do EPL podem participar como pessoas físicas, mas não como organização. Aí a gente resolveou criar uma marca para a gente se vender nas manifestações como Movimento Brasil Livre.
Juliano Torres
Diretor Executivo do Estudantes pela Liberdade
Passadas as manifestações de junho, integrantes do recém lançado MBL se reuniram em torno da campanha de Paulo Batista para Deputado Estadual em São Paulo. (2014)
Batista, que pertencia ao ramo imobiliário no interior do estado, ficou famoso pelos vídeos em que se transformava no super herói do “Raio Privatizador”.
Estética da Zoeira
Batista não se elegeu, mas a campanha, com forte apelo a uma “Estética da Zoeira”, como definem membros do coletivo, chamou a atenção.
No ano seguinte, Alan Santos, o publicitário que organizou a campanha, e seu irmão, Renan, chamaram os militantes para as manifestações contra a Dilma. (2015)
Assim, o MBL ressurgiu nas ruas, trazendo sua capacidade de engajar o público nas redes sociais. O grande diferencial foi a estética jovem e o domínio das mídias digitais, dando uma nova roupagem para a já desgastada velha direita.
Com a queda de Dilma, entretanto, o grupo passou a sofrer com uma série de denúncias e críticas de seus seguidores, sobretudo pelo apoio à gestão Temer. (2016)
O movimento então, voltou a priorizar a internet como principal plataforma de atuação, apostando na capacidade de viralidade de seus conteúdos.
A defesa de ideias neoliberais, como o apoio as reformas trabalhistas e da previdência, não emplacaram. Grande parte do público que acompanha o MBL não foi convencido de que a perda de direitos era positiva. A solução foi reconstruir sua filosofia operacional, apostando no velho conservadorismo brasileiro em relação aos costumes à moral e à cultura.
O que se vê a partir daí é um MBL cada vez mais engajado na censura a escolas e exposições de arte, algo com muito mais chance de sucesso. O discurso fala muito melhor aos brasileiros progressistas no campo dos direitos sociais, porém conservadores em questões comportamentais e culturais.
A esquerda caiu na armadilha do MBL, jogando o jogo escolhido por eles, agora em um terreno mais favorável, em sintonia com a subjetividade carola do Brasil e em uma cortina de fumaça criada para desviar o foco de Temer e grupos políticos próximos da organização.
Gabriel Barcelos
Jornalista e Doutor em Multimeios pela Unicamp
Se a marca MBL estava comprometida por suas alianças, seus desvios estratégicos conseguiram manter sua posição de influência no campo da direita. Ainda assim, eles continuam diante de contradições de difícil resolução: como exibir sua verdadeira face? Como seguir defendendo o governo? E, sobretudo, como difundir as impopulares ideias neoliberais?
Retirado do video “A genese do Movimento Brasil Livre“, de Le Monde Diplomatique Brasil, abaixo: