A Plutonomia e a Estratificação Social
Ao que parece, a desigualdade social de base econômica, está tão disforme e acentuada no mundo que os mais ricos do mundo (os 1% mais ricos de países como os EUA, Reino Unido e Canadá) dominam tanto a economia que podem negligenciar à vontade a grande maioria da população. Ou seja, podem ignorar mais do que as suas vontades sociais ou políticas (que já o têm feito há muito tempo como todos nós sabemos): as suas vontades como consumidores ou quaisquer outros comportamentos que pudessem ter cariz econômico. Basta lerem um pouco os pdfs para verem o quão aberrante e disfuncionais as sociedades supostamente mais avançadas se estão a tornar:
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Excerto da palestra Social Pathology (Patologia Social) por Peter Joseph, onde é referido o material do Citigroup:
Em 2005, o divertido pessoal do Citigroup enviou um memorando aos seus clientes mais ricos em relação ao estado a que eles chamaram “Plutonomia”, e o resumo de tudo isto é muito, muito claro. “O mundo está dividido em dois blocos – a Plutonomia e o resto. Os EUA, Reino Unido e Canadá são os principais Plutonomias – economias alimentadas pelos ricos.”
A Plutonomia é definida como uma sociedade em que a maioria da riqueza é, claro, controlada por uma minoria cada vez menor. E como tal, o crescimento económico da sociedade torna-se dependente das fortunas da minoria rica e não do resto do povo.
Tenham isso em mente. Em seguida, perguntam “Quais são os condutores de Plutonomia?” Eles afirmam, “Tecnologia Disruptiva, ganhos de produtividade induzida, inovação financeira criativa, governos simpatizantes e cooperantes com capitalismo uma dimensão internacional de imigrantes e conquistas no estrangeiro que revigoram a criação de riqueza, *Tosse* MÃO-DE-OBRA ESCRAVA *tosse* o domínio da Lei, e o patenteamento de invenções.Muitas vezes, estas ondas de riqueza envolvem grande complexidade, que são mais bem exploradas pelos ricos e educados desse tempo.”
O ponto básico deste documento é a compreensão de que o consumidor médio é essencialmente irrelevante para os mercados acionistas. Já que os super-ricos que negociam entre si definem maioritariamente o estado da economia. Eles afirmam, “numa Plutonomia não há animais, tais como ‘o consumidor dos EUA’ ou o ‘consumidor do Reino Unido’ ou, mesmo, ‘o consumidor russo’. Há consumidores ricos, poucos em número, mas de forma desproporcionada pela gigantesca fatia de rendimento e de consumo que tomam. Há o resto, os “não-ricos”, a multidão de muitos, mas que representam apenas uma parte surpreendentemente pequena do bolo nacional.”
Eles continuam:
“É por isso que, por exemplo, nós já não nos preocupamos com o impacto dos preços elevados do petróleo no consumo geral. É evidente que os preços elevados do petróleo são um fardo para a maior parte das nossas comunidades.
No entanto, sem fazer qualquer juízo de moral, a desigualdade de rendimentos, sendo o que é, apenas faz com que este grupo seja menos relevante para os dados agregados.
A conclusão? Deveríamos preocupar-nos menos com o consumidor médio – digamos os 50% mais pobres – com o que eles fazem quando esse consumidor é (pensamos nós) menos relevante para a estatística do que os ricos sentem e o que estão a fazer.
Isto é simplesmente um caso de matemática, não de moralidade.”
Temos que lhes dar o crédito por serem honestos.Agora, antes prosseguir, deixem-me esclarecer um pouco melhor.
A “Plutonomia”, como descrevem os documentos do Citigroup, e são documentos muito longos, É claramente o estado de extremo desequilíbrio; tão extremo nalguns países, que a comunidade de investidores tem pouca consideração com os hábitos de consumo da pessoa média.
Por outras palavras, a mutação preferencial ocorreu como resultado do sistema de incentivos financeiros, que levou a que os padrões de consumo da população em geral se tornassem quase obsoletos para os interesses dos ricos, onde eles, a elite rica, a “Plutonomia”, pode agora limitar-se a comprar e vender entre si e esquecer as classes mais baixas.
Por outras palavras, é tanto o dinheiro é movimentado entre os ricos, que os padrões de consumo público são quase irrelevantes.Isto faz claramente sentido quando se pensa nos métodos utilizados para medir a saúde da economia, que é suposto dizer respeito a todos.
O PIB é basicamente calculado de acordo com o que as pessoas gastam ou ganham num determinado bem ou serviço. Assim se usarmos o exemplo do patrimônio líquido Se temos os 1% mais ricos a controlar 35% da riqueza financeira nos Estados Unidos, e os segundos mais ricos 19% a controlar 50%, deixando os restantes 80% com 15%, temos 20% da população americana a controlar 85% do dinheiro.
E foi isso que o Citigroup descobriu. Esta parte muito pequena da população é a que atualmente move tudo. O que isto significa é que o sistema financeiro tem pouco incentivo, por inerência, para se preocupar com as ações ou bem-estar, essencialmente, de 80% do público.
E já que todos sabemos que o sistema financeiro é a mais poderosa influência sobre a maioria dos governos do mundo, especialmente o governo dos EUA, começa-se a ver que a única preocupação que a classe dominante tem em relação à maioria da população, é meramente de nos manter suficientemente complacentes para que uma reação não ocorra.
Eu não estou a projetar isto, o Citigroup torna-nos muito conscientes disto, explicitamente, quando afirmam, “Vemos a maior ameaça à “Plutonomia” como proveniente de um aumento das exigências políticas para reduzir a desigualdade de rendimentos, espalhar a riqueza mais equitativamente, e desafiar forças como a globalização, que têm beneficiado o lucro e o crescimento da riqueza.”
Mas, não se preocupem, eles não estão muito preocupados.”A nossa conclusão? As três alavancas que governos e sociedades poderiam puxar para acabar com a “Plutonomia” são benignas. Os direitos de propriedade estão no geral ainda intactos, as políticas de impostos são neutrais a favoráveis, e a globalização vai mantendo o fornecimento de mão de obra excedentária, agindo como um travão na inflação dos salários.”
Em síntese dizem:
“O âmago da nossa tese sobre a “Plutonomia”: que os ricos são a principal fonte de rendimento, riqueza e procura nos países que são “plutonomias”, como o Reino Unido, EUA, Canadá e Austrália; países que têm uma abordagem econômica liberal para a criação de riqueza, nós acreditamos que as ações dos ricos e a proporção de pessoas ricas numa economia ajuda a explicar muitos dos desagradáveis enigmas e medos que têm atormentado recentemente os nossos clientes de equidade, tais como os desequilíbrios globais ou porque os preços elevados do petróleo não tenham destruído a procura.
A “Plutonomia”, pensamos, explica esses problemas à distância, e diz-nos para não nos preocuparmos com eles.Em segundo lugar, acreditamos que os ricos vão continuar cada vez mais ricos nos próximos anos, como capitalistas (os ricos) recebem uma parcela ainda maior do PIB como resultado, principalmente, da globalização.
Esperamos que a oferta global de mão-de-obra nas economias em desenvolvimento mantenha a inflação de salários em cheque e margens de lucro crescentes -bom para a riqueza dos capitalistas, relativamente mau para o mercado de mão-de-obra desenvolvido não-qualificado/externalizado. Isto é um bom augúrio para as empresas que vendem ou prestam serviço aos ricos.
“Desculpem estar a obrigar-vos a passar por todo este texto mas espero que se entenda que o que as pessoas que estão no topo estão realmente a pensar por trás do sistema financeiro.E eles provavelmente têm razão. Os ricos estão a ficar mais ricos.
O actual declínio econômico realmente não significa nada para os 20% que estão no topo.São os 80% que continuam a sofrer.
Mas a quem é que isso interessa? É evidente que os 20% de topo impulsionam a economia de qualquer forma e eu nem vou entrar no que isso significa em relação às nossas supostas ingenuidades na democracia no mundo moderno. De facto, nas palavras do ex-juiz do Supremo tribunal Louis D. Brandeis, “Podemos ter democracia neste país, ou podemos ter uma grande riqueza concentrada nas mãos de poucos, mas não podemos ter ambos”.
Vídeo da Palestra Patologia Social de Peter Joseph, completo.
Fonte: Ode Triunfante